quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Clara de Pedro Morais

Resgatada Dona Luiza Gambogi nesta semana, a vontade que vem é de retornar fielmente à raiz deste blog, que é a de contemplar artistas e pensadores que se expressam de forma singular.
Minha vontade é mais de escrever, do que propriamente falar de algo. Como Drummond, nosso mestre inspirador aqui, que dizia que a poesia era pra sí uma terapia, escrever para mim passa perto disto.


Produzi na semana passada um Festin Español. Quando começamos a produção, não tínhamos idéia de quem chamaríamos para tocar, e conversa indo e vindo entre amigos, o querido @guifassy indicou Pedro Morais. Como fiquei quase três anos fora de BH, confesso que não sabia da qualidade da indicação. Toca muito, canta muito, é um querido e o trabalho é de muita qualidade.

Deixo então com vocês a letra de uma música do CD dele "Sob o Sol", a música é "O Nunca na Estrada", retrato abaixo a poesia, da personagem Clara, combinando com meu post anterior. Pra quem quiser conhecer melhor o trabalho do moço é só acessar o myspace do Pedro.

Na foto em primeiro plano Felipe Fantoni, músico convidado no show e Pedro Morais. Foto de Ricardo Adam.


"Era uma estrada rumo ao nada
Que ao nunca chega e nunca chegará
Mas Clara andava, poeira na cara
Na trilha das fadas, bola de sabão
Era uma estrada sem curva, sem placas
E tudo apontava nessa direção
Ontem na sala, tapete e sapato
No quarto enfeitado dorme a solidão

Anda, anda, rala entra nessa dança
Veja quantas mãos te empurram para o trilho
Saiba tantas vezes quantas for preciso
Que o relógio conta as tardes de domingo

E era o mar de Cabrália
E era a voz do abismo
Era o que não se paga
Contra a val do perigo

Quero enxergar essa escuridão
Sei que não há outro alvorecer
Para entender onde pisa o chão
Até encontrar estrelas de lá

O mundo a rodar...
Parece querer (e Clara viveu)
A estrada em seu lugar

Era uma Clara, sem bola sem sala
Poeira de fada, trilha de sabão
E tudo andava, tapete sem cara
Sapato enfeitado aponta a solidão"

Música de Pedro Morais, Magno Mello e Kadu Vianna

sexta-feira, 23 de julho de 2010

Clara

Clara nasceu e amou o mar.
Pra ela ele era a imensidão.
E de bem pequena, já entendia como infringia,
o vazio da existência.

Amou primeiro o som imenso dele,
incrivelmente perceptível através de uma concha.
Como o barulho de um mar tão grande
cabia numa concha?

Se desviava do mar,
ficava na areia.
Ria dos carangueijinhos
e dos tatuzinhos.

Aprendeu a nadar. E viu que o mar pode levar ela,
assim pequena, pra bem longe, se descuidar.
E ao amor se somou o respeito.
Preferia roubar as conchinhas.

quinta-feira, 22 de julho de 2010

Fiz-me de conta

Consumo a minha dor,
mas ela é como planta
e o choro como a poda em ocasião.

Depois da poda o broto é certo,
mas a flor, é como um bonito dia de sol no inverno!
Noutro dia, já se recolhe.
Finda beleza.

Alegria assim, tão instantânea
não estanca, nem possibilita a cura.
Não posso com ela.
Não tenho em mim força que me livre.
Nem Deus me livre.

Se me livro dela
vai junto quem não quero que vá.
Prefiro ela, e a companhia que me dá.

quinta-feira, 15 de julho de 2010

Amo meu Príncipe Paraguaio

No dia dos homens, twittei:

"Tá difícil achar algo pra homenagear os homens, pq acho que eles não merecem. Ah! Sim... Obrigada pela costela base da nossa superioridade."

A Arte dos 140 caracteres é complexa, e eu vejo o Twitter como um suporte para expressões “caricaturizadas”. O espaço é pequeno, e as palavras precisam ser fortes e exatas para que se faça entender no microblog.

Não, eu não acho que o homem é só uma “costela de base” para a superioridade das mulheres, e é aí que mora a fonte de todo meu complexo com o sexo oposto: Eu sempre espero mais do que eles normalmente oferecem, sempre acredito mais do que eles merecem. E não tenho só esta expectativa, sei que é compartilhada entre muitas mulheres.

Existem dois tipos de homens, sob a ótica feminina: Os que são reais, com defeitos que as mulheres dificilmente suportam e os príncipes, que não existem na realidade, mas no interior feminino existem de forma sobrenatural. Explico: A maioria das mulheres (e falo por mim também) tendem a camuflar os defeitos dos homems que amam, porque precisam que eles não as decepcionem.

Ok, parece simplista o raciocínio, mas não é. O caso aqui é que os homens são seres que pensam de forma tão diferente das mulheres, que ser consciente e conivente com a forma masculina de pensar/agir, significa para a mulher ir contra várias coisas que ela acredita, como fidelidade, amor incondicional e cumplicidade. Meninas, os homens normalmente não acham estas coisas tão importantes. Eles SÃO diferentes de nós, e isso é real, não é defeito nem qualidade, é diferença.

Então, o que fazemos para não matar o príncipe que insistimos que sobreviva no nosso destino? Ignoramos estas diferenças, suportamos alguns “defeitinhos”, fazemos vista grossa para algumas evidências (porque burras não somos) e seguimos felizes com nossos Príncipes do Paraguay.

domingo, 7 de março de 2010

Sobre o amor que vale.

Refletindo sobre o sentimento que me toma, sobre a leveza e naturalidade do amor... e percebendo como este sentimento que só se sabe sentindo livre, é confundido com prisão e outras formas derivadas do não amor.

"O mau se destroi sozinho,
quando acha que chegou no topo.
O bem vai vencendo, sempre,
mesmo sabendo que o caminho que segue prevê obstáculos.
O mau é sem saída, seu fim é ele mesmo e é triste.
O bem segue em direção de sí mesmo,
porém se estabelece em favor do bem alheio, da felicidade, do amor.
O mau se satisfaz com o amor aprisionado, insuficiente,
forçado por condições externas ao coração.
O amor se satisfaz em ser livre,
em não se justificar na razão humana,
existe no prazer natural,
na pele contente, no presente.
O mau se disfarça de bem, de coitado, de humilhado, de triste...
O amor transparece na verdade, na sinceridade, no não medo de amar, sabendo que a consequência do seu amor,
será sempre recompensa, sem que se peça, se humilhe ou se implore."